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Por que as mulheres querem parir em casa?

Minhas experiências de Parto, e as diferenças entre Parto Domiciliar e Hospitalar.


Bom, pra começar vou explicar porque escolhi esse tema. Sou mãe de três filhos (3 menininhos lindos e sapecas) e tive a oportunidade de ter os três de parto natural. A única diferença é que meu último filho nasceu no hospital, enquanto os dois primeiros eu ganhei em casa. Poder vivenciar as duas perspectivas foi algo muito impactante, e me trouxe ainda mais reflexões e compreensões a cerca do nosso cenário obstétrico atual. (Lembrando que o Parto Domiciliar Planejado é acompanhado por profissionais capacitados, no meu caso enfermeiras obstétricas). Meus dois primeiros partos foram muito diferentes um do outro, mas o fato de terem sido em casa trouxe muitos pontos em comum. Estando em casa pude me sentir à vontade para fazer o que meu corpo pedia, e pude expressar plenamente o que eu estava sentindo sem o medo de ser observada ou julgada por isso. O fato de estar em um ambiente conhecido, no qual me sentia dona do meu processo, me trouxe uma sensação de segurança e confiança em mim mesma. O aconchego do lar me trazia lembranças dos momentos amorosos que eu vivi ali, e isso me dava forças para continuar acreditando e me entregando. Sem contar os aspectos práticos de que em casa eu podia comer e beber o que eu queria sempre que sentia vontade (e no meu caso o trabalho de parto me dava muita fome!); podia gemer, gritar, rebolar, andar, agachar, dançar e fazer os sons e movimentos que quisesse; podia ouvir as músicas que eu gostava no volume e intensidade que fosse conveniente para mim; podia deixar luzes apagadas ou acesas, com velas, incensos e tudo o mais que fosse do meu gosto e vontade. E pra completar, uma equipe que trabalha com parto domiciliar (em sua maioria pelo menos) tem uma postura extremamente humanizada e carinhosa, com elas eu me sentia especial, dona de mim, rainha daquele momento! Essa confiança plena em tudo que envolvia meus partos fez com que eu vivesse experiências lindas e profundas de renascimento. Agora, o mais importante de tudo, o pós parto imediato. O mesmo carinho, cuidado e respeito que a equipe tem pela mulher, ela tem pelo bebê que nasceu. Num parto domiciliar o bebê nasce num ambiente todo preparado para aconchegá-lo. A luz baixa, o quarto quentinho, o silêncio e carinho de todos os presentes. Ele não é mais um, ele é ESPECIAL! Ao nascer, vinham direto pro meu colo, eram secados e aquecidos enquanto mamavam pela primeira vez. E todos os procedimento necessário eram feitos com eles calminhos e juntinhos de mim, com muito cuidado e carinho por parte das mãos profissionais que nos amparavam. Isso não tem preço! Sentir que seu bebê é amado e respeitado, recebido com a JÓIA preciosa que ele É. Realmente essas experiências foram um sonho lindo que se realizou.  E agora, o hospital... Eu tive muita sorte no meu parto. Na equipe que me atendeu estavam duas médicas muito queridas e respeitosas, e um GRANDE amigo enfermeiro que foi como um anjo naquele momento. Consegui ter meu parto natural, de cócoras. Mas para isso tive que me preparar, utilizar muitas táticas e ainda contar com a sorte de ter uma equipe boa no meu plantão. Mas mesmo assim é uma experiência desagradável em MUITOS sentidos. Primeiro que o hospital é um ambiente frio e nada acolhedor. Tem inúmeras pessoas que você não conhece te observando. Ao chegar tem que passar por uma série de situações "brochantes" como ficar preenchendo fichas, passar por umas 3 avaliações diferentes, ficar ouvindo as conversas e comentários "nada a ver" de alguns profissionais que estão por ali, entre outras coisas... Além disso você não tem liberdade para comer e sente vergonha de se expressar como gostaria. Na hora que o bebê está nascendo, parece que você tá dando um show... chegam umas 10 pessoas diferentes que você nem tinha visto para assistir você se abrindo inteira para ganhar seu bebê. Até aí tudo bem, eu consegui parir de forma natural e recebi muito carinho de meu marido e desses poucos profissionais conscientes que estavam ali. O difícil mesmo é o pós parto. Seu bebê acabou de nascer, você viveu essa experiência maravilhosa de trazer seu filho ao mundo, tudo o que você quer é se aninhar com ele. E quando você está nesse "transe" de amor, seu filho é tirado dos seus braços e você nem vê o que fazem com ele. A aflição de estar longe, e saber que estão fazendo um monte de procedimentos super invasivos naquele serzinho tão frágil e delicado que acabou de chegar é quase destruidora. Mas aí os hormônios do parto te enchem de amor e esperança para você estar firme para acolhê-lo. Ao receber meu bebê de volta fiquei algumas horas esperando para me levarem para o alojamento. Nesse meio tempo eu queria senti-lo, aquecê-lo e tranquilizá-lo depois do turbilhão que ele teve que passar, para acolhê-lo melhor em meu colo abri o "embrulinho" que fizeram nele e deixei ele bem coladinho em mim, pele a pele, como sempre me recomendaram com os outros bebês. Ele ficou mais tranquilo, mamou e adormeceu. Fiquei imóvel, numa maca super desconfortável, tentando dar o melhor suporte que podia à ele. Algumas horas depois vieram nos buscar para a internação. A primeira reação da enfermeira que chegou foi "gritar" comigo: - Porque esse bebê tá desembrulhado? Nesse momento ela arrancou ele do meu colo e saiu. Fiquei em estado de choque, aflita e com raiva ao mesmo tempo, como ela podia tirar meu bebê de mim daquele jeito? Outras enfermeiras começaram a arrastar a maca em que eu estava para me transferir, e eu só queria meu bebê de volta. Em seguida ela colocou ele na maca todo embrulhadinho de novo e falou: -Não desembrulhe ele até a hora do banho!  Ao pegá-lo eu o cobri com a manta que estava comigo, tentando protegê-lo da luz forte e do vento daquele corredor frio. Vendo isso a outra enfermeira me olhou e disse num tom bem grosseiro: - Pode tirar essa manta dele, ele tem que se acostumar com a luz porque no quarto ela vai ficar acesa!

Eu nem sabia o que dizer, fiquei quieta sentindo tristeza por ver tanto desamor naquelas pessoas. Tentei manter meu foco no meu filho e transmitir o máximo de tranquilidade que eu pudesse. Depois de chegar no quarto foi mais algumas grosserias e finalmente ela me deixou sozinha. Logo meu marido pôde entrar também. Meu pequeno acabou fazendo seu primeiro cocô, mas eu estava tão intimidada com a reação da enfermeira que tive medo de abrir o embrulho para trocá-lo, e também ainda não tinham trazido meus pertences (com fralda e etc). Pedi ao meu marido para chamar a enfermeira para que pudéssemos higienizá-lo. Ela o pegou com muita má vontade e foi dar o "tal" do primeiro banho. Mais uma vez a mãe não podia ir, mandei meu marido. Do quarto eu só podia ouvir os berros do meu pequeno, e chorei de tristeza e raiva por não poder fazer nada. Ao retornar meu marido me contou o quanto ela havia sido grossa e indelicada, dando o banho como se estivesse lavando um boneco, e ainda com um sentimento de desgosto. Meu pequeno demorou para se acalmar e passou seus primeiros dias com trauma de banho e troca. Nos dois dias seguintes que tive que ficar lá foi um entra e sai de pessoas a todo momento. Faziam umas 5 vezes as mesmas avaliações, falavam comigo como se eu fosse uma criança, e me estudavam como se eu fosse um objeto. Mesmo assim eu mantive meu melhor humor, e fui cordial com todos que passaram por ali, afinal estava recém-parida com os hormônios do amor bombando em mim. Meu bebê passou quase todo o tempo choroso e irritado, as luzes sempre acesas (inclusive na madrugada) e dezenas de pessoas e estudantes nos "orientando" e "cuidando" com muita rispidez. Eu simplesmente não via a hora de sair de lá. Quando pude voltar para casa senti um alívio GIGANTE. Como resultado tive um pós-parto bem intenso. Fiquei depressiva em alguns momentos e me senti extremamente culpada por ter feito meu bebê passar por tudo isso. Mas graças ao meu marido e à minha família consegui superar, e minha rede de amigos e senda espiritual me trouxeram muita motivação. Me dediquei com MUITO amor e carinho ao meu pequeno, para que ele se sentisse amado e seguro! E como os antigos costumam dizer: "Estamos vivos". Mas diferente de quem diz essa frase, não acredito que situações como essa tenham que ser simplesmente aceitas. É nosso papel mudar esses paradigmas, e transformar a realidade obstétrica. Se essa realidade fosse diferente, se os profissionais fossem mais preparados, mais humanos e respeitosos, se as maternidades fossem mais acolhedoras, todas as mulheres poderiam ter a oportunidade de experienciar o que eu experienciei nos partos domiciliares, sentimento de satisfação e alegria em parir. Compreendo que muitos desses profissionais vivem realidades difíceis, de desvalorização profissional e jornadas extensas. Mas cada mãe que está parindo está vivendo um momento único! Cada bebê que nasce está nascendo pela primeira vez. Por isso me dedico muito ao meu trabalho, e me esforço em disseminar essa mensagem para mais e mais mulheres. Todas merecem parir com respeito! E todo bebê merece ser recebido com amor!

Veja mais sobre como se preparar para o parto no video:





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